quarta-feira, 4 de julho de 2007

VERGONHA

Quanta vergonha tenho sentido nos últimos dias. Não por mim porque tento de todas maneiras não me envolver em situações que possam me constranger seja da forma como for.
Pela primeira vez na minha vida senti vergonha de ser brasileira. Vergonha mesmo, a ponto de ficar vermelha e sem graça, a ponto de ter vontade de me esconder e aproveitar minha dupla cidadania para assumir meu lado europeu e esquecer pelo menos por alguns instantes que sou “terceiro-mundista”. Não me orgulho de ter esse sentimento mas está difícil encher o pulmão de ar e dizer: “Sou brasileira” com a felicidade e a alegria que eu tinha ao dizer isso.
Óbvio e claro que nenhuma nação está isenta de deslizes, até porque os paises são formados por pessoas e pessoas falham, erram etc., mas no caso do Brasil a coisa está fugindo de todos os controles.
É lamentável que meia dúzia de pessoas desocupadas e sem nenhum escrúpulo, passem por cima da ética, da moral e da vergonha na cara para se aproveitarem das fragilidades que a nossa “democracia” ainda contém.
Escândalos são diários, corrupção é a palavra de ordem, subornos, má fé, e outras coisas mais são o nosso melhor produto, o pior é que não acho que isso seja mérito apenas do Congresso, Senado, Governos e outras instâncias, na verdade eles apenas representam de forma simbólica e numa escala menor o que já está inserido na rotina do povo brasileiro, acho mesmo e acredito que eles são apenas representativos do que é no fundo o povo brasileiro, salvo raríssimas exceções.
O fato de o povo não se manifestar e assistir a toda essa afronta de braços cruzados, “como se não fosse comigo” só vem a reforçar a minha teoria.
Penso que se não devesse nada a ninguém em termos morais e éticos o povo estaria a essas alturas gritando nas ruas, levantando bandeiras berrando aos quatro ventos que estamos sendo desrespeitados, roubados e afrontados em nossa dignidade. Acontece, que o povo fura filas, suborna pessoas sempre que pode, compra produtos piratas, jogo lixo nos rios, desmata, descumpre leis do trânsito, burla regras etc. e tudo isso são formas menores de corrupção.
Gastamos uma enormidade de reais para mantermos uma corja de pessoas sujas e sem caráter, sim sem caráter, porque pessoas que gastam o dinheiro público para benefício próprio e que descaradamente tiram o pão da boca dos menos favorecidos não podem ser chamadas por outro nome. Nosso dinheiro escoa pelo ralo de Brasília direto para os cofres e relação de patrimônio dos corruptos, enquanto crianças e idosos morrem nas filas do serviço público de saúde, alguma sequer água para beber possuem, faltam escolas, falta dinheiro para cuidar das habitações, do saneamento, a cada dia que passa mais e mais cidades se tornam berçários de doenças transmissíveis por mosquitos e outros insetos, somos o pais dos “sem” sem nada, sem comida, sem roupa, sem teto, sem calçado, sem escolas sem saúde, sem vergonha, sem moral e outros itens mais.
Precisamos dar um Basta, é uma vergonha nos colocarmos em posição de expectadores ( estou incluída aqui ), só falta aplaudirmos no final.
É indecente e imoral a nossa postura diante de tudo isso, podemos mudar tudo começando a mudar nos mesmos, começando a agir em prol do nosso semelhante e a brigar por aquilo que nos é devido e que estão nos usurpando.
O voto como arma não é algo viável porque o povo brasileiro carece de informação e de argumentos para dessa forma tentar mudanças, e também porque aqueles políticos que se mostraram durante anos como ovelhas se mostram agora como assustadores coiotes prontos a devorarem o que lhes passa pela frente.
Que um dia eu possa voltar a sentir orgulho de ser brasileira e ostentar de novo as cores do meu pais e com sorriso no rosto constatar que nós podemos fazer a diferença se lutarmos por aquilo que acreditamos.

...Existe um povo que a bandeira empresta
Pr'a cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?!................
Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra,
E as promessas divinas da esperança...
Tu, que da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança,
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...............
Mas é infâmia de mais...
Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo...
Andrada! arranca este pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta de teus mares!
(trecho de O navio negreiro – Castro Alves )

2 comentários:

Rodrigo Romeiro disse...

O que dizer se tua já disseste tudo? Realmente... tem horas que não dá vontade nem dizer nada! Não acredito em grandes mudanças imediatas! Fazendo a nossa parte, independente do vizinho, estamos mudando alguma coisa... Toda mudança se estabelece do micro-cosmo de nossas ações e se espraia para o macro... o estrato social, quiçá o mundo! Tudo é composto de mudanças (Já dizia Camões no séc. XVI)... Nesse momento temos que nos indignar sim, mas antes de mais nada, saber que outros se indiguinam sim, mesmo que, por enquanto, isoladamente... Já estamos um passo à frente aqui! Beijokas! Parabéns pelo texto!

BLOG DO ZÉ ROBERTO disse...

Dois de meus poetas preferidos, compuseram uma canção que pus pra tocar depçois de ler o que você escreveu meu anjo:

Traficantes de Abobrinhas
Zé Geraldo/Tavares Dias
Elite estúpida e senil
que empresta amparo legal
pra todo mal do Brasil
Verme do toma-lá-dá-cá
que vende o voto de vetar
a violência e a miséria

Só trapaça, choro e morte
Quanto horror
o seu consórcio ainda quer financiar?
Chega de preso e de presunto, seu doutor
É tempo de se produzir consumidor

Caciques bregas, trapalhões
com seus jornais, rádios, tevês
Vão traficando abobrinhas
Perdendo a chance de veicular

Olha aí, mano!
Cidadania, consciência e nutrição
Medicina preventiva e alegria
Noções de amor à vida e paz em cada esquina
Ciência, auto-estima e tecnologia

Criar gente sadia, meu rico doutor
Capaz de conduzir um sonho bom
É só questão de amor, de compaixão
e com certeza ainda rendia um dinheirão

Ai que malvadeza seu doutor
Que elite escrota, que congresso mais chulé
Mas cada um só dá o que tem
Dá o que tem, meu senhor
E mostra o que é

Estamos todos indignados Clarinha, todos!!! Beijão!!!